A MÚSICA RELIGIOSA
José Acácio Santana
(Maestro e compositor, com especialização em regência e música sacra. diretor e regente do Coral Acorde Coração, de Florianópolis, Santa catarina. Gravou doze CDs pela Paulinas/COMEP)
A reminiscência histórica da música nos reporta à pré-história. Lá a música já é considerada linguagem entendida e aceita pelos deuses. Através dela sobem os pedidos das pessoas e desce proteção dos deuses àqueles que estão em desarmonia.
O sacerdote, o professor, o músico e o feiticeiro ou mágico geralmente se confundem nas suas atividades, ou estão presentes na mesma pessoa. Lideram a ação musical que comove o coração da divindade.
Desde a pré-história, portanto, a música estabeleceu pontes entre o humano e o divino, entre o céu e a terra, contribuindo com a experiência religiosa da sociedade humana.
Gêneros musicais:
Embora todos os gêneros musicais possam ser aproveitados na experiência religiosa das pessoas, é interesante conceituá-los, até para melhor qualificar o seu aproveitamento.
Música religiosa é aquela que engloba todas as manifestações de contato da criatura com o criador, seja ele quem for. Música que liga e religa a humanidade com a divindade. É um universo amplo, que abrange a maior parte da produçao musical capaz de favorecer a experiência religiosa do ser humano.
Dentro de um universo mais restrito encontra-se a música sacra. Ligada a textos e sentimentos sagrados, ela prioriza a atitude de serviço e por isso, condiciona a sua liberdade criadora ao espírito de sacralidade que deve possuir.
O universo da música litúrgica é ainda mais restrito. O gênero litúrgico tem compromisso com celebrações específicas e deve estar intimamente ligado ao tempo litúrgico, ao tipo e momento da celebração ritual. Renuncia ao direito de ser fim para assumir o compromisso de ser meio, favorecendo uma melhor participação. Qualquer gênero musical é sempre a exteriorização do sentimento humano, através do som. A expressão musical pode alcançar formas variadas, que vão desde a aeróbica até a silenciosa contemplação . O gesto, ritual ou não, é sempre um componente importante na exteriorização do interior humano. Aliás, o corpo todo deve participar da expressão musical.
O canto é a expressão musical mais vinculada ao sentimento humano.
A voz é a fotografia do nosso íntimo.
No canto se estabelece uma prefeita e pedagógica unidade entre o instrumento e o instrumentista. Ambos são vivos e indissolúveis. Mais facilmente transmitem vida, sentimento e testemunho. É por isso que o canto coletivo reúne mais que instrumentos, porque une mundos interiores e cria a verdadeira consciência comunitária.
Música e transcendência:
Deus fez da música um dom e o entregou á humanidade para que ela, por meio desse dom, pudesse amenizar o sofrimento e enaltecer a alegria, motivar a luta e abrilhantar a vitória, consolar a morte e ressuscitar a vida. Para que pudesse, por meio da ação musical, disciplinar os passos dos que caminham, coordenar os gestos dos que trabalham, unificar as vozes dos que se manifestam, harmonizar os corações dos que sentem, estreitar a amizade dos que convivem e divinizar o espírito dos que rezam.
A música é o outro nome de Deus. Por ela, ele se manifesta e alcança unanimidade universal. Todos os povos possuem e cultivam sua música e fazem dela a melhor de todas as orações e o maior de todos os contatos com o eterno compositor, que fez de nós suas partituras vivas, escritas na eternidade do seu amor. Pela música Deus se faz som e habita entre nós. Pela música nós nos tornamos louvor e prece, ecoando no coração de Deus.
A música é a nossa ponte para o infinito. A música é o nosso melhor contato com o céu.
(Fonte: SANTANA, José Acácio. A música religiosa. IN: Revista de ensino religioso Diálogo : A música na educação. São Paulo , Paulinas, Ano IV, n. 15, Ago 1999. pag. 09)